terça-feira, 18 de setembro de 2012

Deus e o livre arbítrio

Vou compartilhar com vocês uma questão que eu sempre me perguntei e até hoje não obtive uma resposta satisfatória: será que o livre arbítirio realmente existe? Vou tentar argumentar sobre essa questão me baseando no que já estudei do espiritismo.

Primeiro, vamos tomar como premissa as características atribuídas a Deus no livro dos espíritos (LE), ou seja, que ele é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom. Sabemos que esses atributos não definem Deus, mas tomemos eles apenas como base para argumentação.

Assim, vou argumentar sobre algumas das questões que giram em torno do questionamento central:

1) Se Deus é todo bondade, por que ele permite que as pessoas sigam o caminho do mal?

- Essa é uma dúvida clássica. Existem os que usam essa questão para afirmar que Deus não existe, mas, supondo que ele exista, este seria um argumento a favor dos que acreditam no livre arbítrio, afinal, Deus daria tanta liberdade ao homem que ele poderia até ir contra a criação se assim o desejasse. Adicionalmente, o mal não seria uma criação divina, sendo apenas a ausência do bem. Acredito que esse ponto não traz grandes dúvidas. Vamos ao próximo.

2) Os espíritos são mesmo criados iguais?

- Essa é mais difícil de responder, uma vez que o processo de criação de um novo espírito é um mistério. No LE, consta que todos são criados simples e ignorantes. A dúvida é: existe realmente uma total igualdade à época da criação?

Porque se não são iguais, abre brecha pra que um seja mais privilegiado do que outro. E, mesmo que fossem criados iguais, será que teria como ser dado a todos oportunidades iguais? Porque a explicação que se dá no LE para as diferenças entre os diversos espíritos está nas experiências individuais de cada reencarnação e nas escolhas que são feitas nelas por eles.

Só que, se cada reencarnação é única, então não teria como dar provas iguais para todo mundo, o que levaria a questão de se há a chance de alguns espíritos terem tido cargas mais leves do que outros, ou escolhas mais fáceis.

Num pensamento inverso, se por acaso eles fossem mesmo criados iguais, então, diante de uma mesma questão, teoricamente todos fariam a mesma escolha, e assim eles evoluiriam igual. Só que esse com certeza esse não é o caso, afinal, os humanos podem ser qualquer coisa, menos iguais. Cada um é um mundo único, cheio de particularidades. Assim, qual seria a explicação para os espíritos serem criados iguais, mas tornarem-se tão diferentes?

3) O que seria um espírito puro?

- Após atingir o grau máximo de evolução, os espíritos se tornam puros. Mas o que seria esse estado? Porque se o espírito passa uma eternidade inteira aprendendo coisas novas até atingir a perfeição, porque ele haveria de parar de aprender? Será que ele só atinge esse estado quando tiver todo conhecimento do universo? Mas o universo está eternamente em expansão, então sempre haveria mais alguma coisa a aprender, correto?
 
Mas ainda existe outra questão: se os espíritos são tão diferentes, na perfeição eles se tornariam iguais? Teoricamente, a perfeição é um conjunto de ideias únicos, então ser perfeito seria se adequar a essa unidade e abandonar as diferenças? Se for assim, os espíritos puros perderiam a personalidade que os caracteriza.

A explicação mais lógica seria que na verdade a pureza absoluta não seria o fim, e sim apenas um marco, para denotar espíritos de grandes conhecimentos, sabedoria e moral, mas que ainda sim continuariam a evoluir, como todos os outros, só que numa escala mais avançada.

4) Se Deus é onisciente, então não há como existir livre arbítrio.

- Deixei a mais polêmica pro final. Talvez alguém esteja se perguntando qual a ligação entre as duas coisas. Explico: se o conhecimento de Deus é total, podendo Ele até mesmo prever o que a gente vai fazer e conhecendo tudo que foi, é e há de existir, então, no momento da criação de cada um, Ele teria como ver exatamente tudo que fariamos, cada decisão, cada passo, cada escolha. Ou seja, a partir da criação estariamos programados a fazer exatamente o que fomos programados pra fazer. Não existiria escolha, a nossa criação que determinaria tudo que fariamos por toda eternidade.

O livre arbitrio não existiria, seria como, fazendo um paralelo, a genética. Ou seja, a maneira como você nasceu determinaria tudo que viria depois. Mas mesmo a genética é alterada pelo meio ambiente, mas Deus, conhecendo tudo, também preveria o ambiente, voltamos então ao ponto inicial.

Outra questão é que, sendo Deus imutável, será que por tabela isso também não nos faria imutáveis, de certa forma? Ou seja, podemos acumular conhecimentos, aprendizados, mas no fundo, no fundo, seriamos os mesmos, em essência? Teoricamente essa hipotese corroboraria então a tese acima.

Só que existe uma outra possibilidade. E se ela fosse verdade, eu admiraria muito mais a entidade que chamamos de Deus. Talvez Deus seja tão poderoso, mas tão poderoso, que poderia criar algo que está além dos seus próprios poderes. Ou seja, ao criar o espírito Deus nos daria total liberdade de fazermos o que quisermos sem ele poder prever nosso futuro. Assim, cada escolha seria de fato uma escolha e não algo que Deus já sabia que fariamos. Acho que o universo seria mais interessante se esta hipótese fosse verdadeira.

Mas a verdade é que criar hipoteses sobre Deus é complicado, dado que sua natureza nos é completamente desconhecida. Mas eu me divirto muito só em pensar nessas coisas. :)

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